quinta-feira, 29 de novembro de 2012

*ESCRITURA DO CORPO





ESCRITURA DO CORPO

Rejane Costa Barros 


Dispo-me pela manhã e uma luz me invade a alma
vou-me repartindo em versos, em prosas, em laudas,
passeio pelo quarto à procura do teu vulto
o frêmito desejo da espera.

Aprender a esperar é ter sabedoria, habitar quimeras.
Nos dedos trago o gesto de um chamado
nas mãos a loucura das promessas
e os cânticos a entoarem horas e sílabas.
A voz derramada em gritos num cego espaço
um rio que se percorre e deságua nos poros.

O que escrever para não pecar?
O que dizer sem ferir a carne? Vogais desta ânsia em fúria.
Vou cantando pelas redondezas, desembrulhando aldeias,
e esperando que o crepúsculo me vista com seu tom
que as sombras me acolham e me temperem.

Ofereço-te o riso escancarado e mudo num lapso de segundo,
num momento apenas para que te alegres.
Mais que as palavras, darei a ti meu pranto,
A rosa, o gosto, um aroma de amor regressado.

Tenho pesos em meus ombros, cruz nas costas,
um veludo que me reveste o ventre
e de cobiça, essa sensação de total entrega;
vou descortinando a paisagem e me fazendo sombra,
a passos largos danço no horizonte.

Meus olhos aflitos procuram o lugar mais denso
espantam-se com a cor negra do caminho,
sem compromisso de se fazer herança
Trago as mãos cheias de calor e sossego
para dar-te como presente.

E espalhando minha voz neste universo de tragédias
vou-me doando e esperando a calma, a noite cinza,
o amanhã composto de claridade e úmida colheita
assim ofereço-me nesta hora em sons, em tons, em versos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário